terça-feira, 8 de junho de 2010

Acento diferencial

Olá, aqui estou eu de novo, e num curto espaço de tempo.

Acabo de receber mais uma contribuição para o blog. Meu caro amigo Renan, que meu deu a ideia deste blog, foi quem viu o anúncio e achou o erro. Daí, eu aproveitei, é claro, pra ver se havia mais erros. E, claro, movida pela esperança de alimentar meu TOC, fiz uma leitura pente-fino no anúncio. E não é que havia mais coisa?

Já está todo mundo "em dia" com o novo acordo ortográfico. Embora saibamos que ainda há a possibilidade de se escrever sob a antiga regra, todos os meios de comunicação, desde o ano passado, já se norteiam pelas novas normas.

O erro deste anúncio, que é da F/Nazca, se refere ao acento diferencial. Basicamente, o acento diferencial serve para distinguir palavras que se escrevem da mesma forma, mas que têm significados diferentes. A intenção é evitar confusões de entendimento. Por exemplo, o verbo "poder", na 3ª pessoa do singular, tanto no presente como no pretérito perfeito (passado) do indicativo, se escreve PODE. O acento diferencial vai ajudar a evitar confusões com relação ao tempo. Vejamos: : "Ela pode fazer isso" / "Ela pôde fazer isso". Se não houvesse o acento circunflexo, jamais poderíamos saber se se trata de passado ou presente. Imaginem a falta desse acento, por exemplo, num contrato com o seu banco. 

Com o novo acordo, alguns acentos diferenciais foram dispensados, por se entender que não haveria confusão de entendimento em situações contextuais. "Para" é um exemplo. Aboliu-se o acento que distingue o verbo "parar" (na 3ª pessoa do singular do presente do indicativo) e a preposição essencial "para". Antes, tínhamos o acento agudo para diferenciar uma e outra. Por exemplo: "Ela não pára de revisar" / "Isso é para revisar".

Bem, no nosso anúncio de hoje, o erro é cometido duas vezes. Na frase "Mundial 2010. O Brasil pára. O Globo não pára". O certo, com base no novo acordo, é "O Brasil para. O Globo não para".

Eu confesso que ainda me sinto um pouco burra, ao imaginar que posso vir a confundir essas duas palavras num título de jornal, que é sempre quase telegráfico, como "Festa para a cidade". Será que foi feita uma festa pra alguma cidade, ou a festa "bombou" tanto que parou a cidade? Não sei, não. Tenho medo de ser a única a pensar isso.

Só para completar: outros acentos que "caíram" com o novo acordo: pelo (pêlo = filamento que cobre a pele do homem e de outros animais), pela (péla = bola de borracha), polo (pólo = 1. extremidade; 2. esporte) e pera (pêra = fruto da pereira). Entretanto, o acento diferencial de "pôde", explicado lá em cima, CONTINUA.

Dando prosseguimento ao nosso material em questão. Prometi achar mais erros, e aqui estão eles. Ao final da peça, temos a descrição dos prêmios.

Um deles é o iPod. Como se trata de um anúncio, temos que escrever exatamente como a marca o registrou. O correto é "i" minúsculo, colado à palavra "Pod". Só que no anúncio, temos "Ipod". Já na capacidade de armazenamento desses equipamentos, temos "G" para abreviatura de Gigabyte. Na verdade, eu pesquisei e achei "GB" e "G" para o símbolo, mas não em sites oficiais. Oficialmente, de acordo com o SI (Sistema Internacional de Medidas), o correto seria "GB". Isso ainda é reforçado pela IEC (International Eletrotechnical Commission – Comissão Eletrotécnica Internacional), que para evitar ambiguidade nos valores de MB, GB e família (tendo em vista a confusão com os reais valores dessa "tchurma"), ainda criou o termo menos simpático Mebibyte (MiB). Mas isso é um assunto de informática, coisa que eu só entenderia se nascesse de novo ou se ganhasse mais um cérebro. Como isso é meio impossível, prefiro continuar revisando... hehe.

Bem, é só. Mais uma vez, agradeço ao Renan pelo anúncio. Olha a minha doencinha pegando aí, minha gente!!!

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Encartes de supermercado

Meu povo e minha pova, quem me conhece sabe que eu tenho verdadeira adoração por encartes de supermercados. Até acho que já falei sobre isso.

Estava atrás de um encarte pra revisar e colocar no meu post. Mas pra ser sincera, nunca imaginei que fosse encontar erros num encarte do Zona Sul, atendido por ninguém menos que a W, uma agência "mega" (que atualmente assina esses encartes junto com a McCann, outra gigante da publicidade). Tudo bem, erros são comuns (imperdoáveis após o material ter ido para a gráfica, mas acontecem). Só que esses chegam a ser coisa de criança, e a W não poderia tê-los cometido.

Vamos lá. Esse anúncio saiu na Revista O Globo, de 02.05.2010. Nesse dia, achei também erro em anúncios de duas agências onde trabalhei (não poderia estar mais feliz... hehehe. Não trabalho mais nessas agências e acabo encontrando erros... recalcada, me senti realizada). Mas em se tratando de W, minha preferência é óbvia.

Trata-se de um encarte de queijos e vinhos, tendo o dia das mães como tema. Alguns erros são de estilo e informação. Mas... erro é erro. Resumindo, o material consiste em  algumas fotos de queijos e vinhos, e no topo as descrições (legendas).

Na segunda legenda, temos "Presunto Crú". Isso mesmo... com acento. Todos sabemos que oxítonas terminadas em "i" e "u" só são acentuadas se essas letras forem precedidas de vogais (ou seja, em casos de hiatos, senão em vez de hiato, teríamos um ditongo). Vejamos: Itaú, baú, açaí, Piraí etc. Aí sim temos o acento. Se "i" e "u" forem precedidos de consoantes, torna-se dispensável o acento. Dessa forma teremos: Iguaçu, Parati, caqui, urubu. Assim, "cru" não tem acento, é óbvio. E isso é simples, nem precisa muito de explicação, todo mundo sabe da regra. Toda agência tem um revisor, ainda que freelancer (aquele que não trabalha com vínculo empregatício e presta serviços eventuais). E essas correções são obrigação dele.

Vamos ao outro erro. O Zona Sul vende muitos produtos importados; dessa forma, tem que conhecer espécies de produtos e marcas estrangeiras. No encarte, temos um queijo francês chamado "boursin". Mas, provavelmente, por um erro de digitação, aliado à falta de atenção ou de pesquisa por parte de quem revisa, saiu "buorsin". Com o "u" na frente do "o".

Outro erro, ainda com relação a este queijo, é o nome do distribuidor: "Paraiso das Cabrinhas". Está sem acento no "i". O correto, segundo a norma, é com acento (Parso). Mas aí pode ser que a marca tenha sido registrada sem acento (como é um encarte, temos que seguir fielmente a embalagem). Só que mesmo assim vale ressaltar, pois no encarte não há a foto do produto, e eu não encontrei na internet a imagem, para confrontar. Por isso, a princípio, vou tratar como erro.

As outras observações se relacionam com padrão. Quando trabalhamos em agência – especialmente em varejo, revisando encartes –, vamos adotando parâmetros de revisão que são essenciais para a excelência do trabalho. Dessa forma, vou passar rápido por esses erros, só pra registrar.

Temos um nome de marca escrito junto, quando o correto é separado (na foto temos Queijo Gran Formaggio; na legenda está Granformaggio). Outro problema: em umas legendas, usam travessão, em outras usam hífen. A saber: travessão é sinal de pontuação. Hífen NÃO é. E por último, um erro de informação. Na legenda, temos descrições de embalagem com uma gramatura (a capacidade ou peso de uma embalagem), e na foto, aparecem outras medidas. Por exemplo, na última legenda, eles descrevem o produto "Queijo mozzarelline Vitalatte" com as gramaturas 250g e 280g. Já nas fotos, temos 550g e 475g.  Em se tratando de encarte, o cuidado com essas informações tem que ser dobrado. Embora tenham colocado "pequeno, médio e grande", não informaram as gramaturas com exatidão. Tem que colocar TUDO, pra não confundir o cliente.

Bem, este foi o post de hoje. Pra mim foi um prazer mostrar um pouco sobre revisão de encarte, embora eu não pudesse ter sido mais detalhista, senão esse post iria ficar gigante. Mesmo assim, espero que tenham curtido.

É isso. Té mais.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Mais uma da série Embalagens

A vítima de hoje é a embalagem do gel antifadiga da Natura.

Não estou contestando a qualidade os produtos da Natura – até porque este não é um site sobre a funcionalidade de um produto cosmético. Mas toda vez que acho erro em alguma embalagem, acabo não querendo comprar o produto. Isso é mania minha. Não é à toa que o blog se chama TOC. A pessoa que vos fala não se "intitula" um ser normal... hehehe.

O que me espantou, até mesmo mais do que o próprio erro, foi a qualidade da impressão. O interior da embalagem – onde estão as instruções mais detalhadas sobre o uso – tem um fundo azul escuro, sendo que a cor do texto é um "quase preto". Ou seja, não dá pra ler direito. À noite, então... esqueça! A imagem ao lado mostra exatamente como a peça é "ao vivo". Não se trata de problemas na digitalização, não. É assim mesmo... só consegue ler quem tem olhos de lince.

Mas ainda assim, com esse problema na impressão, dei um jeito de ler. Na imagem ao lado, será humanamente impossível conseguir ler. Mas eu vou transcrever o trecho com o erro em destaque.

Está assim: "2. A partir do início das sobrancelhas, pinçe a região dos olhos, rodeando toda a sua superfície (3x)". Sim, gente. Foi isso mesmo. Pensando ser algum problema na impressão, ou uma "sujeirinha" embaixo da letra, ainda dei aquela olhada com lupa, tentei aumentar o zoom da imagem, clareei no computador. E "pince" estava escrito, sim, com "ç".

Acho que essa regra nem precisa ser explicada. Todos sabemos que somente antes de "a", "o" e "u" é que o cedilha se faz necessário, para que o som seja [s]. Antes de "e" e "i" não precisa. Aí me perguntam: então por que não colocaram "ss" logo de uma vez? Culpa das regras de transição do latim para o português. Em uma outra oportunidade, postarei mais detalhes sobre essa questão. Não é nada muito carnavalesco, mas é sempre importante a gente saber a origem dessas regras. Isso vai facilitar muito a nossa vida na hora de escrever. Porque nos livros de gramática, em geral, só há listagens do tipo "Escrevem-se com g ou j", "Escrevem-se com ç", etc. Essas listas são bastante úteis, mas só servem para consulta, já que na maioria desses livros não há explicações consistentes. O que está lá, a gente acaba decorando. Mas, consultar por consultar, prefira um dicionário – você encontrará muito mais ocorrências. No entanto, não há dicionário no mundo que tenha conseguido relacionar TODAS as palavras (ou será que tem??? "Avisaê", porque eu quero um). Então, nossa dúvida vai continuar, sempre que surigir uma palavra que não estiver na famosa listinha, ou quando surgir um termo novo. Por isso uma explicação diacrônica nos dá mais chances de acertar quando houver uma nova ocorrência.

Fica aqui minha observação quanto a essa embalagem, provavelmente feita pela Taterka ou pela Trip, que são as agências que produzem alternadamente as revistas da Natura (se não for uma das duas, depois eu faço uma errata, assim que descobrir quem fez). Cumpre ressaltar que as revistas da Natura são todas sempre muito bem diagramadas e até o momento sem algum erro aparente. Mas eu estou de olho. Se eu achar, vem pro blog!

Gente, é isso. Até a próxima postagem.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Viagem versus Viajem

Esta é mais uma postagem de resposta a um comentário. Desta vez, foi o Tuninho Silva. Em primeiro lugar, quero agradecer pela observação. É mais um "gás" neste blog.

A dúvida do Tuninho foi a seguinte: qual a diferença entre "viagem" e "viajem"? Eu andei pesquisando, e em muitas gramáticas, tenho visto uma explicação bastante superficial. Apenas se diz: "viagem" (com g) se refere ao substantivo. Exemplo: Propus ao meu marido uma viagem ao Caribe. Já "viajem" refere-se ao verbo "viajar" conjugado na terceira pessoa do plural, no presente do subjuntivo. Exemplo: "Quero que eles viajem tranquilos".

Tal "explicação" não dirime a nossa dúvida: "cacildis", mas por que grafar um com "g" e o outro com "j"?  Vamos lá, é simples. Viagem é um substantivo terminado em "-agem". Salvo algumas raras exceções, substantivos terminados em "-agem" (vamos pensar no som) se escrevem com "g". Por exemplo: garagem, passagem, lavagem, bobagem etc. Vou citar uma exceção de que me lembrei: pajem.

Já o verbo "viajem" deriva de "viajar" (se "viajar" fosse escrito com "g", sabemos que teria outro som, não é? Por isso, obrigatoriamente se troca o "g" pelo "j". E é aí que começa a história). As formas flexionadas de um verbo regular devem seguir a grafia de seu infinitivo. Dessa forma, temos o radical "VIAJ", que é a parte inalterável do verbo viajar. Somando o radical VIAJ aos outros componentes – vogal temática, desinências número-pessoais e modo-temporais – temos a estrutura completa do verbo. Lembram-se das aulas de Estrutura das Palavras? Vamos tentar desfazer um pouco a imagem de "aula traumática" que essa matéria costuma ter nas nossas mentes de estudantes torturados pela Gramática de segundo grau. Tem gente que até chama de Dramática, haja vista o estrago que ela andou fazendo na sua vida.

Só pra ilustrar melhor, abaixo, coloquei a conjugação do verbo no presente do subjuntivo, com todas as pessoas, pra gente ter uma ideia global da questão.

eu VIAJe
tu VIAJes
ele VIAJe
nós VIAJemos
vós VIAJeis
eles VIAJem

Olha o VIAJEM com "j" aí, minha gente! Chora, cavaco... de novo. Não dá pra isolar "viajem" e sair comparando com "viagem". Por isso muita gente ainda tem dúvida, mesmo depois de ter estudado isso exaustivamente, por pelo menos uns 4 anos. Primeiro precisamos entender a estrutura de cada um. Depois, não vamos precisar comparar, porque nenhuma dúvida vai existir. É simples.

Pessoal, muita coisa parece difícil de entender (ou de explicar). Mas só parece. Quando a gente começa a conhecer, passa a curtir. O problema não está na Gramática. Está na forma como nos ensinaram no nível médio. Nem sempre era culpa do professor, e sim dos programas de aula prosaicos e mecânicos, que tinham qualquer objetivo, menos o de ensinar.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Resposta a um comentário ilustre


Esta postagem será uma resposta ao comentário que recebi ontem sobre a matéria "Hífen ou não". 

Adriano, obrigada pelo post. Eu estava até desistindo deste blog, mas seu comentário me incentivou a continuar postando. Errando ou acertando, aqui estou eu. E com esse novo acordo ortográfico, minha vida virou um verdadeiro inferno, pois minhas certezas começaram a cambalear (o que é normal no início). Mas é bom, pois assim voltamos ao hábito de estudar e saímos da zona de conforto. Já comprei tanta gramática e dicionário, desde que o acordo começou a dar sinais de realidade, que perdi a conta. E como vi divergência!

No dicionário Houaiss, que você usa como exemplo no seu post, já temos "micro-ondas" e "anti-inflamatório" com hífen porque em junho de 2009 já estava vigorando o novo acordo. E por mais que tenhamos tempo para adaptações a essa regra, todos os meios de comunicação já passaram a usá-la desde janeiro do mesmo ano. Poucos são os que não estão seguindo esse padrão. Mas ainda assim estão no seu direito. 
 
Com relação a "micro-organismo", consultei o dicionário do Bechara e vi as duas ocorrências: "micro-organismo" e "microrganismo" (forma variante). Só pra infernizar nossas vidinhas tão insignificantes (rs). E isso acontece com inúmeras palavras. Vou dar um exemplo (que nem é da turma do "com hífen ou não") que tirei do livro do Sacconi (Guia ortográfico e ortofônico): "relampear", cujas formas variantes, segundo ele, são: "relampejar, relampadejar, relampaguear, relampadar e relampar". É de arrepiar cabelinho do dedinho do pé (como diz minha avó). 

Agora, sobre não pronunciar "mi-cro-or-ga-nis-mo" exatamente como se escreve, pode acreditar que acontece com a grande maioria das palavras. Estamos pegando carona na "Lei do Menor Esforço" (uma das leis fonéticas, em que o falante simplifica a emissão dos sons, facilitando os órgãos do aparelho fonador). A gente não fala, por exemplo, "Con-de-de-Bon-fim" (o nome de uma rua da Tijuca). Falamos "Condibonfim" (mais ou menos isso). De fato, quase nunca falamos exatamente como escrevemos. Porque a fala se distingue da escrita (embora a escrita seja uma tentativa de registro da fala, e é isso que complica nossa vida na hora de escrever). Pra piorar, isso ainda varia de região pra região (não só no som como também no vocabulário e na estrutura frasal. É o que chamamos de variação diatópica). Embora essa variação não tenha relação direta com a tal lei fonética, é importante ressaltá-la aqui, porque ela também interfere na pronúncia (e muito). Só pra você ter uma ideia de como a nossa língua é rica. E como a nossa gramática "mete" medo.

Quanto ao símbolo de litro, eu concordo com você. Prefiro o símbolo com letra minúscula. Tenho pesquisado muito, e vejo que não há um consenso sobre o que será tendência (se "l" ou "L"). Eu trabalhei numa agência que fazia encartes para um supermercado, e os diretores de arte usavam uma fonte sem serifa, o que me obrigava a exigir o "L" em caixa alta, principalmente porque, por exigência do cliente, a medida deveria vir colada ao número correspondente, se este tivesse apenas um algarismo (é, o cliente tem sempre razão). Nesse caso, tínhamos que diferenciar, pra não gerar confusão, principalmente por se tratar de uma publicação que envolve questões legais. 

No site do Inmetro, símbolo não é abreviatura (portanto não tem ponto), não é expoente (portanto não se sobrescreve) e não tem plural. O que se diz em relação a letras minúsculas é na escrita do nome, já que temos símbolos escritos em maiúsculas (joule/J, coulomb/C, watt/W, por exemplo). Quanto ao litro, na tabela do Inmetro aparecem "l" e "L". Sendo assim, ambas as formas ainda são aceitas. 

Mas como você pediu minha opinião, digo que prefiro sempre usar em minúsculas, independente de a fonte ser serifada ou não. Sempre optarei por escrever assim, até o momento em que deixar de ser correto. 

Mais uma vez, obrigada pela força. Seu comentário me animou. E eu nem vejo como dúvida. Pra mim, foi uma colaboração grandiosa e uma opinião que merece todo o meu respeito.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Hífen ou não?

Timidamente, eu vou voltando a fazer minhas postagens. Sempre na expectativa de que a cada dia, haja mais visitas.

No post de hoje, vou falar sobre o novo acordo ortográfico, em vigor desde o ano passado. Não vou colocar todas as regras, porque vai ficar muito grande.

Honestamente, confesso que no início eu era contra, cheguei até a blasfemar, dizendo que ele jamais iria acontecer. Mas... aconteceu. Algumas mudanças foram úteis, outras já não. Mas deixemos pra lá... o que importa não é emitir minha rebelde opinião. O blog tem a função de explicar as regras a partir dos erros apresentados nas peças gráficas.

Bom, vamos à peça do dia. É o anúncio da linha Solar Expertise da L'Oréal. Estou colocando apenas metade do anúncio, justamente onde ocorre o erro. Está certo que ainda temos prazo para adotar a nova ortografia, mas todo mundo já está na "onda". Eu tinha falado sobre isso em outro post.


O título é "Transparência total com secagem imediata. Nunca uma alta proteção solar antiidade foi tão invisível".

Qual o erro? Vamos a um trecho do que diz a nova regra. Em palavras formadas por prefixos (anti, super, ultra, sub, etc.) ou por elementos que podem funcionar como prefixos (aero, eletro, auto, macro, micro, etc.), usa-se o hífen se o prefixo terminar com a mesma letra com que se inicia a outra palavra. Daí temos algumas alterações: antiinflamatório, microondas e arquiinimigo, por exemplo, agora se escrevem: anti-inflamatório, micro-ondas e arqui-inimigo. Então, para a nossa peça, o correto agora seria "anti-idade".

Muita gente vai ficar perdida com isso. Porque o que eu ouço por aí é: "algumas palavras que tinham hífen passam a não ter mais. Outras que não tinham agora levam. Já algumas outras ficam do jeito que estão". O "pobrema", meu povo e minha pova, é: QUAIS palavras? QUAL o critério? Já era difícil detectar isso antes, imagine agora. Enfim, hífen ainda é um grande problema. Tem que conhecer bem a origem da palavra, saber se ela funciona como prefixo, elemento de composição. Aff! É um exercício hercúleo. Mas Gramática é assim: a gente precisa se interessar pra conhecer melhor. Quando começa a conhecer, fica fácil entender. E entendendo mais, a gente passa a gostar. Não tem mistério. É prática, estudo e pesquisa.

Bem, acho que por hoje é só.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Série "Embalagens"

Depois de umas férias forçadas pela minha preguiça de sentar diante do computador (causada pela alta de calorias natalinas), estou de volta.

Enfim, tento ser variada nas minhas postagens. E desta vez, resolvi separar uma peça gráfica muito bonitinha. Mas há alguns deslizes, que não gostaria de considerar erro, e sim falta de atenção.

Vamos a ela. É a embalagem promocional do sabonete líquido íntimo Dermacyd, em que você compra um Delicata 200ml e ganha um Breeze de 120ml. Não sei quem elaborou essa peça, quem souber, "avisaê", por favor.


Não dá pra ler por aqui, mas vou transcrever as frases que contêm erros. Logo de cara, na descrição do produto, temos: "Sabonete Líquido íntimo Para a higiene diária da mulher", assim mesmo, com letras maiúsculas no meio da frase. Esse texto aparece duas vezes — de um lado está com o ponto após "íntimo". Então, para mim, é falta de atenção.

Em seguida, na gramatura do produto, usaram o símbolo errado: em vez de ml (letras minúsculas), colocaram mL (com o "l" maiúsculo). Vamos lá: segundo o próprio Inmetro estabelece: "símbolo não é expoente, não é abreviatura e não tem plural" (fonte: http://www.inmetro.gov.br). Portanto, sempre ao lado do número, sem ponto e no singular. Tanto nome como símbolo, em letra minúscula.

Quanto à pontuação, a nossa peça de hoje também comete seus pecadinhos. Acho que é um problema que aflige muita gente: o uso do travessão. Existe uma série de regras para seu uso, mas aqui vou tentar ser sintética, pois há sites que diferem o travessão (ou risca) da meia-risca, enquanto outros defendem que usam a mesma regra para um e outro. O travessão, grosso modo, serve para:
  • Indicar mudança de interlocutor nos diálogos.
  • Ligar palavras que não formem um substantivo composto (ex.: Ponte Rio—Niterói). Neste caso, alguns dizem que se deve usar a meia-risca.
  • Destacar no fim de um período: esclarecimento, explicação, conclusão do enunciado.
  • Delimitar intercalações e aposições, enfatizar trechos (ex.: Tudo que tenho — celular, chave, moedinhas — já foi colocado no detector de metais).
Vejamos o exemplo da nossa embalagem: "O exclusivo complexo ácido lático atomizado de lactoserum, proporciona higiene completa, conforto e bem-estar". Tudo bem com o primeiro travessão. Mas não se trata de uma intercalação? Deveríamos ter travessões duplos. Aqui, a vírgula é dispensável. Mas o travessão não elimina a vírgula em uma frase caso ela seja de rigor. Fica feio, mas é o correto. Por exemplo: "A Tatiana tem mania de revisar bula, revista, sites, encartes — sua paixão declarada —, folder, embalagem e tudo que juntar letrinha".

Lembre-se: muita gente usa o hífen (vulgo "tracinho") no lugar do travessão. Hífen NÃO é sinal de pontuação. Pra quem já sabe, vale relembrar. Pra quem não sabe, cabe anotar: atalho no computador para travessão é ALT+0151. O atalho ALT+0150 é pra meia-risca. Tem gente que acha o primeiro muito comprido, então prefere usar a segunda. Espero ter a grata oportunidade de falar sobre hífen e travessão.

O nosso último erro. Terceiro parágrafo da primeira coluna: "O sabonete líquido íntimo DERMACYD FEMINA DELICATA, cuida naturalmente da mulher...". Aqui temos um clássico deslize típico de quem redige termos da oração muito compridos, principalmente sujeitos. Lembram das aulas de análise sintática? Nem querem lembrar, né? Traumático. Mas é só entender melhor pra gostar.

Vamos pular aquela definição vaga do que é sujeito, para ir direto à regra de ouro: "em ordem direta, não se separam com vírgula sujeito e predicado/verbo". Não há complexidade. A vírgula obedece a critérios sintáticos (vamos esquecer um pouquinho a famosa pausa). Por isso, não se deve separar termos da oração unidos sintaticamente. Aliás, o povo pega um saquinho de vírgulas, põe a mão dentro e sai salpicando o texto. Mas isso é matéria para outro posy. Juro que reservo um pra falar melhor sobre a vírgula. Este aqui está se transformando num testamento.

Então, acho que é só. Que 2010 venha com mais leitores para o nosso blog.