quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Os porquês - Parte 2

Agora vem a porrada. Podia ser mais simples, né? Mas, como não é, a gente tenta fazer o melhor. Mas uma dica boa: procurem um bom livro de Gramática, evitem procurar na internet. Às vezes, "dá ruim".
Vou partir logo pras definições, porque senão serão TRÊS posts. Ficou grande "pacaramba".

PORQUE 
Na forma escrita acima, é uma conjunção – explicativa ou causal. Independente se a frase é  interrogativa ou afirmativa, o sentido sempre vai ser CAUSA/EXPLICAÇÃO. 
Exemplo: 
Causa: Não fui ao churrasco porque estava chovendo. / Explicação: Não faça isso, porque é perigoso
Vamos lá. Não é tão simples, pois envolve as temidas orações coordenadas e subordinadas. Infelizmente, é bom dar uma olhada "por alto" em Coordenação e Subordinação (é o único caminho pra gente entender de uma vez por todas), pois vai ajudar MUITO na hora de identificar os "porquês". 
Pra resumir (se é que dá), temos duas relações – uma de causa e outra de explicação. 
Na primeira ocorrência, "estar chovendo" é a razão pela qual não fui ao churrasco (temos uma oração principal e uma subordinada [adverbial causal]). 
Na segunda, "ser perigoso" não necessariamente é causa direta para não se fazer isso (uma oração coordenada sindética explicativa). Mas é uma explicação: "Se você fizer isso, vai sofrer consequências". Estou tentando explicar à pessoa, para que ela não faça isso. 
O problema é que elas são muito parecidas. Uma diferença que vi em muitos livros de Gramática é que na explicativa, há o uso da vírgula entre a oração explicativa e a precedente. Mas a questão aqui não é descobrir a diferença entre essas orações, e sim saber que "porque" (ok, junto, sem acento) ocorre NESSAS orações. Isso a gente pode descobrir num outro post. 
E quando temos "porque" (junto) dentro de uma pergunta? SIMPLES. Só pensar no que escrevi acima. Esqueça o ponto de interrogação, "porque junto/separado". Não é um caminho bom, não. Só atrapalha. Vamos a um exemplo? 
Você não veio porque estava ocupado? 
Aqui temos a mesma relação anterior. A CAUSA de "você não ter vindo" = você estava ocupado. E PONTO! Se formos dividir as orações, CONTINUA A MESMA COISA: uma oração principal (Você não veio) e uma subordinada adverbial causal (porque estava ocupado). É por isso que esse negócio de "pergunta", "retórica" ou "subentendido" não ajuda. Esqueçam o ponto de interrogação, e pensem na relação entre as orações. 

POR QUE
Acho que este é o mais chato. Porque temos variação. 
No primeiro caso, vamos ter que pensar um pouquinho na questão interrogativa, porque andei pesquisando, e o que encontrei foi "advérbio interrogativo". SIM. Não que não tenha havido divergências ao longo de minha pesquisa. Eu mesma fiquei meio "pau" com essa coisa. Mas de fato, não estamos querendo uma CAUSA, um motivo? É o mesmo caso (em termos de contexto) da conjunção subordinativa "porque". "Separado" para diferenciar. Sintam a diferença: "Por que você não veio?" versus "Foi porque você não veio?". 
Notem: "Explique por que você não veio" versus "Explique, porque você não veio". É aqui que vai entrar a segunda parte de POR QUE. 
Vamos pegar os dois exemplos acima (começando por "porque" – junto). "Explique, porque você não veio". Aqui, temos uma "explicação", que me "solicita" a pedir uma satisfação à pessoa que não veio. Assim = Explique, já que você não veio (você não veio, e eu quero uma explicação para isso). Tchan! 
Agora, temos "Explique por que você não veio". Muita gente vai querer usar o recurso "por que motivo, causa" etc. Mas vamos um pouco além disso, já que quase TUDO em "porque" significa motivo (seja explicativo, causal, interrogativo). Se formos "substituir", virá "MOTIVO". Então, "bora" esquecer essa parada. 
Vamos pensar no que vem ANTES de "por que". Aí entramos nos verbos transitivos (eu sei que dói, mas é um mal necessário). Já repararam que, quando temos esse "por que" numa afirmativa (que dá a ideia de uma "pergunta"), temos um verbo transitivo direto (Rá!)? Vários exemplos: 
Queria saber por que você não veio. Diga por que está chorando. Não me pergunte por que ele está aqui. São todos verbos transitivos diretos. E, dessa forma, temos orações substantivas objetivas diretas. Ou seja: orações que funcionam como um objeto direto (que é o complemento de quem??? Do verbo transitivo direto). Quero saber ALGO. Diga ALGO. E por aí vai. 
Temos ainda um outro caso. No exemplo: Este é o ideal por que eu luto. Aqui temos o pronome relativo "que" e a preposição "por". Neste caso, não temos uma explicação, ou uma indagação. Apenas uma relação de referência a um termo já dito, somada à regência verbal. Uma das regências do verbo "lutar", dependendo do sentido, é "lutar por". Fechou? E "que" está retomando a palavra "ideal" (Este é o ideal. Eu luto por este ideal). 
Muitas pessoas substituem por "pelo qual", pois fica mais fácil: que = o qual/a qual. Se juntarmos "o qual/a qual" com "por", obrigatoriamente temos que fazer a contração, e transformar em pelo/pela. Para um imediatismo, até ajuda. E eu também prefiro usar "pelo qual" nas minhas redações. Fica menos "grrrrrr". 
Ficou claro aqui que POR QUE merece um post só pra ele. Vou tentar desenvolver melhor esta ideia e fazer um especial, porque tem história pra contar. Assim com queria fazer um sobre Coordenação e Subordinação. 

POR QUÊ
Aqui é menos complicado. O "que" com acento é puramente fonético. A gente aprendeu lá atrás que as monossílabas tônicas terminadas em "a", "e" e "o" são acentuadas, né? Pá, pé, vê, só... 
Acontece que o "que" tem essa possibilidade de ora ser átono (entre as palavras, em que a gente quase não percebe o seu som, por uma questão de entonação), ora ser tônico (no final de uma sequência, na qual a gente percebe nitidamente a sua "existência"). Experimentem, lendo em voz alta: "Essa foi a solução que eu encontrei" e "E aí, vai fazer o quê?".
Então, exemplificando o nosso queriiiido aí de cima: Ela saiu daqui por quê? / Ele age assim, mas eu não sei por quê. (Nestes dois exemplos, temos o tal do advérbio interrogativo e a oração substantiva objetiva direta, complementando o verbo "sei", que nessa construção é... transitivo direto. OI OI OI). 

PORQUÊ
Neste caso, o mais simples de todos. Temos um SUBSTANTIVO. Yes! Substantivo. Essa todo mundo sabia... hehehe. Mas por que substantivo? Existe uma parte da Morfologia chamada Formação de Palavras, que é o processo pelo qual vão surgindo... as palavras ("craro, Cróvis"). Existem vários métodos. E como a língua é uma coisa louca e linda, nada é estático na sua evolução. Só a Gramática é que fica meio perdida tentando dar nomes aos bois, e é por isso que "birimbola". 
Neste caso, o método foi por DERIVAÇÃO. A derivação consiste em criar uma palavra (derivada) a partir de outra já existente (primitiva). Há vários tipos de derivação. Mas aqui temos uma coisa chamada DERIVAÇÃO IMPRÓPRIA (a Morfologia diminui um pouco a sua importância e passa a bola pra Semântica, que eu gosto de chamar de SeMÃEtica). 
No caso de "porquê", não surgiu uma palavra "diferente". Apenas foi mudada a classe dessa palavra. Exemplos práticos: "os bons, os maus" (adjetivo passa a substantivo); "o caminhar" (infinitivo passa a substantivo); "Você é um querido" (particípio passa a adjetivo); "Vamos pesar os prós e os contras", "Receber um 'não' é frustrante" (palavras invariáveis passam a substantivos. Opa! É aqui que entra "porquê"). "Porque" é conjunção (invariável) que passa a ser um substantivo. E o sinônimo é... MOTIVO, RAZÃO (voltamos ao começo). 
Exemplos: Essa atitude não tem um porquê. / Vamos ao porquê da história

Por que isso acontece??? Eu vejo como uma necessidade de "ilustrar" melhor uma frase. Pensem e vejam se não fica mais "direto" do que "Essa atitude não tem um motivo". Além do mais, é coisa da língua mesmo, uma necessidade de enriquecer cada vez mais. Não dá pra quantificar esses fenômenos, eles acontecem, vivem acontecendo. Faz parte da evolução linguística. Só fica ruim pra tentar registrar tudo isso de uma só vez, e de uma forma hermética. É por isso que muitas vezes encontramos muita divergência. Não é burrice ou vaidade por parte de quem explica. Mas é porque é difícil mesmo registrar algo intangível. 

Eu acho que tudo isso merece melhor investigação (principalmente o POR QUE, que dá pano pra manga), pra gente botar a nossa cabeça pra funcionar, e deletar de vez aquela explicação "cretina" de "motivo/razão pela qual", "início de pergunta" etc. Até porque, por exemplo, falando, a gente não tem uma ordem certinha, pra ficar declarando que é "começo de pergunta" que define se vai ser "por que", "porque", "por quê" ou "porquê".
Não é fácil. Talvez esta minha explicação não ajude muita gente, mas foi a minha forma de raciocinar. Pode ser que não siga um caminho muito ortodoxo, mas dessa forma me faz um mal menor. E acredito que, se alguém tiver uma forma mais leve e dinâmica que a minha, vai me dar um help.
É isso, povo e pova. Então, deixo vocês com a peça publicitária aí de cima. Eu tinha colocado esse anúncio no meu ANTIGO post sobre os "porquês" (aquele que eu retirei). Nessa peça, temos o seguinte texto: "Sacolas /Porque optar pelas duráveis, como faziam nossos avós". Qual vocês acham que deveria ser o correto: por que, por quê, porque ou porquê


Os porquês

Este blog é focado em peças publicitárias. Mas hoje, em especial, eu gostaria de não postar nenhuma peça com erro (ufa!) e falar sobre os queriiiiiidos porquês.
Em primeiro lugar, eu queria dizer que é muito difícil a forma como aprendemos na escola, em qualquer nível. A gente não aprende – em parte – errado. A forma como a gente "recebe" a informação é que acaba com a nossa dignidade.
Gente, eu pesquisei blog, sites especializados, sites de concursos. Eu não sei se procurei direito, mas não encontrei nenhum blog ou site que explicasse esses udos de uma forma mais desenvolvida. Pra não dizer que não achei, só encontrei um (sim, UM), que serviu de pontapé para esta minha vontade de entender tanto os porquês e encontrar uma forma "camarada" pra gente não esquecer mais.
Aí fiquei matutando... durante o dia, meu trabalho não me deixa nem piscar os dois olhos de uma só vez. Então, as ideias resolvem aparecer na hora em que vou dormir. E com isso eu sou "muito mais" feliz...
Cheguei à conclusão de que a melhor forma de associar o uso dos porquês é partir logo pra ignorância... hehe. Ou seja, vamos direto à fonte, que é a classe de palavras.
Eu mesma já fiz um post aqui sobre os porquês, mas retirei, pra não ficar repetitivo. E porque acho que este aqui vai ser mais completo. O tempo passa, o tempo voa... e a gente vai aprendendo mais. Acho que o post anterior está um pouco com esses vícios que eu tanto critiquei.  
É tanta coisa que eu terei que dividir este assunto em dois posts.
Se vocês hoje forem procurar "explicações" sobre os porquês, vão achar basicamente isto (em grande parte de sites direcionados, pois alguns, mesmo que com esse mesmo perfil de explicação, ainda tentam ser mais abrangentes):
"Por que ('separado', sem acento): início de pergunta ou pergunta subentendida = por que (motivo). Porque (junto, sem acento): resposta. Por quê ('separado' e com acento): final de pergunta. Porquê (junto, com acento): substantivo = causa. O mais fácil de identificar, pois sempre vem depois de 'o' ou 'um'".
Não é assim (ou mais ou menos assim. Sei que tem mais algumas coisinhas, mas eu resumi bem)?

Na minha opinião (e isso não significa que eu seja dona da verdade), o primeiro erro é colocar os quatro numa mesma explicação – tipo um "aulão" sobre os porquês. Atrapalha mais do que ajuda.
O segundo erro (vamos chamar de "pegadinha") é que, se formos avaliar direito, não existe SEPARADO. "Porque" só vai ser "porque" se for junto. Se estiver separado, são duas palavras – por e que/quê.

Bom, como não tem jeito, vou ter que falar dos quatro de uma só vez. Mas espero, do fundo do meu coração, que esta explicação seja útil, pois eu ouço muita gente me perguntando as diferenças. E se os "aulões" com essas pegadinhas funcionassem, não iria mais haver tanta gente com dúvida.
Eu faço assim: em vez de pensar: "Eu uso 'porque' (junto, sem acento) em resposta/afirmação (etc.)", eu penso primeiro na classe de palavra. Depois vou dando os exemplos. Aí, parece que é pensar meio que ao contrário, mas faz mais sentido.
Vamos lá, no próximo post, vamos esmiuçar esses lindos.