quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Casa de ferreiro, espeto de pau - parte I

Nesta minha busca por uma vaguinha nas agências, venho visitando sites e mais sites – das menores às maiores. Sempre pergunto se eles estão precisando de revisor, falo da minha experiência, os clientes para os quais trabalhei e trabalho, blá, blá, blá... Mas diante da afirmativa deles de que estão bem servidos de revisor, minha vontade é dizer: "Ah! A agência 'tá' mesmo bem servida? Então, olha isso...". Dá vontade de pegar os trabalhos que eu revisei e mostrar que não é bem assim. Só que aí começo a pensar: "Tatiana, 'tu não é' (sic) a última bolacha do pacote, não. 'Tu erra' (sic), também". Além do que a boa educação me manda dizer, com aquela falsa alegria de telemarketing: "Olá!!! Muito obrigada pela resposta imediata. Aproveito para informar que estou sempre à disposição, inclusive para trabalhar como freelancer".

Mas meu recalque não se controla. Vou passeando pela internet e vejo que, realmente, em casa de ferreiro, o espeto é de pau. Há uma série de erros gramaticais (sem falar em outros tipos) nos sites de algumas agências. O que não deveria ocorrer, já que o site é um cartão de visita das empresas de publicidade (aliás, de qualquer tipo de negócio).

Então, comecei a série "Casa de ferreiro, espeto de pau". Vou tentar postar os erros das "mais-mais", senão vou ter que criar um blog especial só pra esta série. Vamos inaugurar com a Artplan. Peguei um trecho da página sobre a Agência (tive que "disfarçar"a carinha do artista). A seguir:


Segundo parágrafo: "A separação entre propaganda convencional, promoção, eventos e tantas outras ferramentas de comunicação não existe mais. As vezes, uma solução criativa está na propaganda sozinha. As vezes não. Por isso, não basta ser apenas uma agência tradicional, mas um parceiro estratégico". Faltou a crase de "Às vezes", nas duas marcações. É regra: quando é locução adverbial (feminina) de tempo – determinando frequência –, leva o acento grave, indicativo de crase. Já se "as vezes" significar "o papel", como em: "Faço as vezes (= o papel) de médico aqui em casa", então não teremos a ocorrência de crase. Assim como também não ocorrerá crase em: "Foram raras as vezes (foram raros os momentos) em que eu não procurei erro em um texto". Porque aqui "vezes" é substantivo e não está se juntando a nenhum outro elemento para compor uma locução. É simples. Macete (odeio macete, mas às vezes funciona. E aqui, serve só para efeito comparativo e não de sentido): substituir por outro advérbio de tempo (masculino): "Às vezes (aos sábados), eu saio para fazer compras no shopping".

E continua. Existe uma barra de rolagem. Por isso, na imagem não aparece todo o texto, mas vou reproduzir o pedaço restante.

2. Não sei quando publicaram o texto. Mas como a própria agência se intitula "uma das 15 maiores agências do país", precisa atualizar o site, sempre que possível. Sabemos que a antiga regra ortográfica ainda não foi extinta. Mas a maioria dos meios de comunicação já adotou o novo acordo. Questão de afinação com a atualidade.

No penúltimo parágrafo, temos: "Queremos, sim, fazer muitos filmes, anúncios, jingles e outdoors para você. Mas ainda é pouco. É preciso surpreender o consumidor com novos caminhos e formatos de idéias, ousar, reinventar modelos já desgastados". Pois é... texto bacaninha. Mas "ideia" perdeu o acento agudo. Vale lembrar aqui a nova regra: não se usa mais o acento dos ditongos abertos "éi" e "ói" das paroxítonas. Paróxitonas são as palavras cujo acento tônico recai na penúltima sílaba. Mas atenção: as oxítonas em "éi" e "ói" continuam com acento agudo. Assim, "heróico" passa a se escrever "heroico". No entanto, "herói" continua acentuado.

3. E pra fechar este post, lá no link para o filme, com a foto do artista, temos um erro de regência. O verbo "assistir" admite regências diferentes, podendo ser transitivo direto, transitivo indireto ou intransitivo. Mas quando se muda a regência, o significado muda junto.

Vamos lá. Assistir, no sentido de "ajudar", não requer preposição: "Assistia os doentes sempre que podia". No sentido de "morar", é intransitivo. Admite um adjunto adverbial: "Assisto no Rio de Janeiro". Ainda temos o sentido "caber, competir, pertencer", que solicita a preposição "a": "É um direito que assiste a todos". O mesmo vale para "assistir" no sentido de "ver, presenciar": "Clique aqui e assista ao filme" – a construção que deveria estar no site.

Espero que este blog não esteja sendo visto de forma negativa. Com todo o meu respeito, não estou reproduzindo estas informações com intenção de depreciar ninguém. Caso alguém se sinta ofendido, é só entrar em contato comigo, e eu tiro a imagem do blog. Caso alguém se sinta desamparado, me chama... estou aberta a propostas... hehehehe.

É isso. Atentos à próxima.

2 comentários:

  1. Eu gosto de explicacoes assim, parece mae ensinando os filhos, tudo bem mastigadinho. Obrigado bem grande.

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    1. Oi, Vilma!!!
      Em primeiro lugar, mil desculpas pela demora em responder. Eu tô tentando arrumar um dia com mais de 24 horas, mas ainda não foi deferido... rsrsrsrs.
      Eu gosto muito de escrever, ainda mais sobre regras gramaticais. "Regra", em si, já é um nome chato, que implica obrigatoriedades (pode, não pode), e isso realmente é um porre. Daí pensei em fazer algo bem humorado. E comentários como o seu só me estimulam a escrever mais. Obrigada pela força! Falta tempo pra eu parar e escrever mais, mas estou tentando me organizar pra ter esse prazer de volta. Um beijo!!!!

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