segunda-feira, 8 de março de 2010

Resposta a um comentário ilustre


Esta postagem será uma resposta ao comentário que recebi ontem sobre a matéria "Hífen ou não". 

Adriano, obrigada pelo post. Eu estava até desistindo deste blog, mas seu comentário me incentivou a continuar postando. Errando ou acertando, aqui estou eu. E com esse novo acordo ortográfico, minha vida virou um verdadeiro inferno, pois minhas certezas começaram a cambalear (o que é normal no início). Mas é bom, pois assim voltamos ao hábito de estudar e saímos da zona de conforto. Já comprei tanta gramática e dicionário, desde que o acordo começou a dar sinais de realidade, que perdi a conta. E como vi divergência!

No dicionário Houaiss, que você usa como exemplo no seu post, já temos "micro-ondas" e "anti-inflamatório" com hífen porque em junho de 2009 já estava vigorando o novo acordo. E por mais que tenhamos tempo para adaptações a essa regra, todos os meios de comunicação já passaram a usá-la desde janeiro do mesmo ano. Poucos são os que não estão seguindo esse padrão. Mas ainda assim estão no seu direito. 
 
Com relação a "micro-organismo", consultei o dicionário do Bechara e vi as duas ocorrências: "micro-organismo" e "microrganismo" (forma variante). Só pra infernizar nossas vidinhas tão insignificantes (rs). E isso acontece com inúmeras palavras. Vou dar um exemplo (que nem é da turma do "com hífen ou não") que tirei do livro do Sacconi (Guia ortográfico e ortofônico): "relampear", cujas formas variantes, segundo ele, são: "relampejar, relampadejar, relampaguear, relampadar e relampar". É de arrepiar cabelinho do dedinho do pé (como diz minha avó). 

Agora, sobre não pronunciar "mi-cro-or-ga-nis-mo" exatamente como se escreve, pode acreditar que acontece com a grande maioria das palavras. Estamos pegando carona na "Lei do Menor Esforço" (uma das leis fonéticas, em que o falante simplifica a emissão dos sons, facilitando os órgãos do aparelho fonador). A gente não fala, por exemplo, "Con-de-de-Bon-fim" (o nome de uma rua da Tijuca). Falamos "Condibonfim" (mais ou menos isso). De fato, quase nunca falamos exatamente como escrevemos. Porque a fala se distingue da escrita (embora a escrita seja uma tentativa de registro da fala, e é isso que complica nossa vida na hora de escrever). Pra piorar, isso ainda varia de região pra região (não só no som como também no vocabulário e na estrutura frasal. É o que chamamos de variação diatópica). Embora essa variação não tenha relação direta com a tal lei fonética, é importante ressaltá-la aqui, porque ela também interfere na pronúncia (e muito). Só pra você ter uma ideia de como a nossa língua é rica. E como a nossa gramática "mete" medo.

Quanto ao símbolo de litro, eu concordo com você. Prefiro o símbolo com letra minúscula. Tenho pesquisado muito, e vejo que não há um consenso sobre o que será tendência (se "l" ou "L"). Eu trabalhei numa agência que fazia encartes para um supermercado, e os diretores de arte usavam uma fonte sem serifa, o que me obrigava a exigir o "L" em caixa alta, principalmente porque, por exigência do cliente, a medida deveria vir colada ao número correspondente, se este tivesse apenas um algarismo (é, o cliente tem sempre razão). Nesse caso, tínhamos que diferenciar, pra não gerar confusão, principalmente por se tratar de uma publicação que envolve questões legais. 

No site do Inmetro, símbolo não é abreviatura (portanto não tem ponto), não é expoente (portanto não se sobrescreve) e não tem plural. O que se diz em relação a letras minúsculas é na escrita do nome, já que temos símbolos escritos em maiúsculas (joule/J, coulomb/C, watt/W, por exemplo). Quanto ao litro, na tabela do Inmetro aparecem "l" e "L". Sendo assim, ambas as formas ainda são aceitas. 

Mas como você pediu minha opinião, digo que prefiro sempre usar em minúsculas, independente de a fonte ser serifada ou não. Sempre optarei por escrever assim, até o momento em que deixar de ser correto. 

Mais uma vez, obrigada pela força. Seu comentário me animou. E eu nem vejo como dúvida. Pra mim, foi uma colaboração grandiosa e uma opinião que merece todo o meu respeito.

2 comentários:

  1. Olá Tatica! Com esse nome só poderia estar envolvida com as dificeis estrategias da lingua portuguesa. Perdoeme a brincadeira e vamos a minha dúvida: Se fazemos uma viagem com "G", porque viajamos com "J"?

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  2. Tatica,

    Peço desculpas, mas só vi o seu post hoje. Eu achei que havia configurado o blogspot para que me enviasse uma possível resposta sua por email. Não veio nada.

    Interessante o seu exemplo do nome da rua "Conde de Bonfim". Aqui no interior do Rio Grande do Sul, é mais provável que as pessoas pronunciem "conde-de-bonfim", pois é muito mais fácil pronunciar "de-de" do que "dji-dji", como vocês falam aí. Isso demonstra que basear a regra do hífen na autonomia fonética dos radicais é inviável.

    Me compadeço com você pelo seu cliente, embora eu também não goste de ver um espaço entre os numerais e as unidades. Na verdade, eu também não gosto de ver tudo grudado. Eu acho que fica melhor com meio espaço, que também não entra em conflito com a recomendação do Inmetro.

    Quanto ao símbolo do litro, eu acho que o SI nunca deveria ter aceito o L como símbolo alternativo. Se fosse pela dificuldade na época em se diferenciar o l do 1, o que se deveria buscar era introduzir o 1 no teclado das máquinas de escrever. Afinal, eles não criaram alternativas para o símbolo do ohm (Ω) e do angstrom (Å), por exemplo, sendo que esse último poderia facilmente ser confundido com o ampere (A).

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